Carta à Igreja
Ao iniciarmos esse projeto de compartilhar de forma estruturada aquilo que o Senhor tem falado conosco, entendemos Nele a necessidade de compartilhar o nosso coração a partir do lugar espiritual nO caminho que estamos hoje, e de certa forma um breve relato do que nos conduziu até aqui.
Não buscamos criar nova doutrina ou revelação, mas compartilhar, com clareza, as bases da nossa fé conforme a direção do Senhor. Reconhecemos nossa pequenez diante da grande história da igreja e desejamos apenas ser parte fiel daquilo que o Espírito Santo está edificando.
Essas bases não limitam, mas sustentam. São o fundamento para cooperarmos na edificação da igreja, junto àqueles que o Senhor despertar para viver esta pequena, porém sincera, expressão do corpo de Cristo na terra.
O início
Desde nossa conversão em 2007, vivíamos de forma inconsciente aquilo que hoje chamamos de “Transbordante”. Mas foi ao chegarmos à França, em 2023, sob a missão de pregar o evangelho, que essa visão começou a ser revelada com clareza. O que antes era apenas vivido, agora se tornou um entendimento: uma vida no Espírito que transborda e transforma tudo ao redor.
Trasfegando
Sempre acreditamos que toda visão ou revelação recebida possui um contexto prático, onde aquilo que é invisível, se torna visível, a questão é quando e como. Nem todas as promessas reveladas são de cumprimento imediato, e esse foi o nosso lugar no segundo estágio desse tempo, a questão agora era: quando e como fazer?
Ao buscarmos no Senhor discernir esse tempo, Ele nos disse: estou mudando vocês de odre. E para muitos esse conceito pode ser novidade, e não se preocupe, também foi para nós. Sempre escutamos a mensagem do vinho novo, e do odre novo, e a partir dessa mensagem começamos um doloroso e longo, pelo menos para nós, processo de desconstrução.
Vinho velho
Nascemos em Cristo há dezesseis anos e, desde então, caminhamos sob o mesmo ministério, buscando viver com integridade o chamado de ser igreja com nossos irmãos. Nesse tempo, fomos moldados por muitas pessoas e experiências — aprendemos, ensinamos, erramos, recomeçamos, e seguimos pela fé. Esse percurso nos amadureceu, nos envelheceu no Senhor, e nos deu o sabor do vinho velho — o melhor vinho (Lucas 5:39).
Foi nesse contexto de transição e revelação que essa passagem nos despertou. Primeiro, veio o choque. Depois, a aceitação. A negação cedeu lugar às perguntas sinceras, não mais sobre o porquê, mas sobre o como. Se o vinho novo não pode ser colocado em odres velhos, o que acontece com o vinho velho em odres novos?
A Bíblia não trata diretamente desse cenário, mas a resposta que o Espírito nos trouxe é: sim, é possível. O vinho velho, que carrega história, peso e maturidade, pode ser derramado em um odre novo — um novo tempo, um novo formato — desde que haja disposição para se submeter ao processo, com fé, humildade e discernimento.
Trocando de Odre
A trasfega é o processo na viticultura em que o vinho é transferido para outro recipiente, a fim de separar as impurezas e permitir sua maturação. Espiritualmente, essa imagem nos ajuda a entender como Deus trabalha em nossas vidas, nos movendo de um lugar para outro para purificar o que foi acumulado com o tempo.
Assim como o vinho, também passamos por fases de limpeza e transformação. Deus nos tira de zonas de conforto e rompe estruturas que já não servem mais ao propósito que Ele tem para nós, nos colocando em novos contextos onde podemos crescer e amadurecer.
Esse processo nem sempre é fácil. Muitas vezes, é desconfortável e doloroso. Mas, assim como o vinho que absorve novos aromas ao ser transferido, também ganhamos novos aprendizados, experiências e revelações ao sermos colocados em novos espaços.
Em Jeremias 48, vemos o alerta a Moabe sobre o perigo de se acomodar. Essa mesma advertência serve para nós, quando nos apegamos ao que é familiar e deixamos que impurezas se acumulem. Deus, em sua graça, nos conduz por um caminho de purificação para que possamos viver com fé e integridade o novo que Ele tem preparado.
Um modelo para vocês
Compreendendo que estávamos atravessando uma mudança não apenas exterior, mas principalmente interior, uma nova questão surgiu diante de nós. Quando partimos para a França, havia um destino definido. Sabíamos de onde saímos e para onde iríamos. Mas agora, em meio a essa nova transição, a única direção que ouvíamos era: “apenas Me sigam.” E foi exatamente isso que fizemos — obedecer e seguir.
Desde o início da nossa caminhada com Cristo, sempre buscamos viver sob a direção do Senhor. Em cada decisão, grande ou pequena, fomos agraciados com Sua voz e conduzidos por Sua fidelidade. Essa obediência nos sustentou e nos trouxe até aqui. No entanto, desta vez, algo mudou. Antes, nossas perguntas envolviam permanecer ou avançar para algum lugar. Agora, o chamado era para avançar sem saber o destino. A única certeza era o “para quem” estávamos indo. E isso, por mais que desafiasse nossa lógica, foi suficiente para nos manter firmes. Porque Nele, e por meio Dele, seguimos adiante.
Ao longo desses anos de conversão, sempre ouvimos os profetas e procuramos discernir as palavras que recebíamos — tanto para nós como casal, quanto dentro do corpo coletivo da igreja. Aprendemos a valorizar o ministério profético, pois cremos que o Senhor revela Seus planos aos Seus amigos antes de agir na terra. E foi assim também nesta etapa da nossa jornada.
Pouco antes de sairmos do Brasil, por três vezes um profeta maduro nos disse: “meditem na igreja de Antioquia, ela será um modelo para vocês.” Essa palavra se tornou nosso ponto de partida. Passamos meses buscando discernir, entender e montar o quebra-cabeça diante de nós. As peças estavam sobre a mesa, e a referência para encaixá-las vinha da Palavra e da história da igreja primitiva. Seguimos rumo a um lugar desconhecido para a mente, mas profundamente conhecido no espírito — guiados por um clamor que crescia em nosso coração e pelo testemunho fiel da igreja ao longo dos séculos.
Você não está louco
Meditar é um desafio profundo. Quando o salmista fala da bem-aventurança de meditar na Palavra dia e noite, ele revela um tesouro escondido: uma relação contínua, sem limites de tempo ou espaço. Meditar assim rompe barreiras naturais, porque, em Cristo, temos acesso não só ao texto, mas também ao Autor e à revelação viva das Escrituras.
Quando a direção da meditação se voltou para a igreja de Antioquia, fomos levados a contemplar mais do que palavras escritas. Vimos o próprio Deus, autor e executor da história, nos conduzindo a olhar para as origens, o desenvolvimento e as consequências daquele modelo de igreja. E, nesse processo, muitos dos nossos conceitos foram confrontados.
Refletir sobre a vida daquela comunidade e compará-la com a nossa realidade foi, muitas vezes, desconcertante. Não apenas pelos sinais e milagres, mas pela forma orgânica e viva como a igreja se desenvolvia, guiada por um governo que não era visível no natural, mas plenamente presente em cada detalhe.
Durante essa busca, conversas e reflexões entre nós mesmos nos levaram a questionar até a própria sanidade. Parecia loucura, até o dia em que, num momento preparado por Deus, uma voz profética orou por nós e disse: “Vocês não estão loucos. O que estão ouvindo e vendo vem do próprio Deus, é o que Ele tem para vocês nesta estação.” A partir dali, recebemos essa visão com fé — e entramos, então, no novo desafio: como vivê-la?
uma gota num
oceano de revelação
Somos uma gota no oceano da glória de Deus, parte de um corpo que transborda o que carrega dentro. A igreja nasce de corações rendidos, onde o amor é o vínculo e o Espírito se manifesta em qualquer lugar.
Queremos ser uma comunidade de adoradores em Espírito e em verdade, caminhando juntos em humildade, firmes nas tempestades e leves para seguir o Vento. Nossa intenção é viver de forma simples, com Cristo no centro, manifestando Seu corpo por meio de uma aliança de amor a Deus e ao próximo.